Chamada de Artigos para o Dossiê: 70 anos da morte de Getúlio Vargas | Intercâmbios entre mídia, sociedade e poder

2024-03-01

Chamada de Artigos para o Dossiê: 

70 anos da morte de Getúlio Vargas

Intercâmbios entre mídia, sociedade e poder

Em 2024 se completam 70 anos da morte de Getúlio Vargas. A efeméride marca uma ocasião propícia a reflexões acerca da história do Brasil, em especial sobre os fatos ocorridos entre 1930 e 1954, período no qual o país viveu sob a égide dos diferentes governos getulistas. Revolucionário, ditador e presidente eleito, Vargas deixou um legado ambíguo em nossa história. Sua influência ecoou em quase todo século XX, com efeitos duradouros na política, na economia, na cultura, e na sociedade de modo geral. Em razão disso, suas dimensões e desdobramentos são objeto de pesquisa e debate mesmo atualmente, refletindo as complexidades da história brasileira do século passado. Nessa perspectiva, estudos aprofundados sobre as mídias, durante o período de atuação política de Vargas, são fundamentais para a compreensão do papel da comunicação na configuração do poder político e na formação sociocultural do Brasil da época.

Direção

Sob a direção de Carla Fernanda da Silva, Pâmela Chiorotti Becker Souza e Thiago Costa Juliani Regina.

Apresentação

Em 2024 se completam 70 anos da morte de Getúlio Vargas. A efeméride marca uma ocasião propícia a reflexões acerca da história do Brasil, em especial sobre os fatos ocorridos entre 1930 e 1954, período no qual o país viveu sob a égide dos diferentes governos getulistas. Revolucionário, ditador e presidente eleito, Vargas deixou um legado ambíguo em nossa história. Sua influência ecoou em quase todo século XX, com efeitos duradouros na política, na economia, na cultura, e na sociedade de modo geral (Delgado, et al, 2003; Gomes, 2013). Em razão disso, suas dimensões e desdobramentos são objeto de pesquisa e debate mesmo atualmente, refletindo as complexidades da história brasileira do século passado (Mourelle, et al, 2023).

Nessa perspectiva, estudos aprofundados sobre as mídias, durante o período de atuação política de Vargas, são fundamentais para a compreensão do papel da comunicação na configuração do poder político e na formação sociocultural do Brasil da época. Todo um espectro de imagens e representações específicas quanto à nacionalidade surgiu durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), (re)criando expressões da identidade brasileira atreladas ao civilismo getulista (Paulo, 1987; Souza, 1994, 2006; Capelato, 1996, 2003; Simis, 1996; Garcia, 1999; Gomes, 2003; Schvarzman, 2004; Tomain, 2005; Shaw, 2006; Gomes, at al, 2013; Bilhão, 2011; Sá Neto, 2018). Com a redemocratização do Brasil em 1945, foi cunhada boa parte do repertório discursivo utilizado na luta política, marcando a ascensão e a consolidação de um novo léxico político (Delgado, at al, 2003; Hippolito, 2004; Gomes, at al, 2013). Com efeito, estes universos simbólicos somente se cristalizaram porque diversas mídias agiram como construtoras, relativamente autônomas, da realidade social (Abreu, at al, 1994; Ortiz, 1988; Barbosa, 2007; Ribeiro, 2007; Martins, 2016; Jácome, 2020).

Assim, este dossiê busca compreender os papéis e as dinâmicas de funcionamento das mais diversas mídias existentes no país entre os anos 1930 e 1954, considerando seus usos políticos, sociais, culturais e econômicos. Com este propósito, convidamos investigadores de diferentes áreas das ciências humanas e sociais, que trabalhem com quaisquer suportes midiáticos (livro, jornal, revista, rádio, panfleto, cinema, etc.), a se somarem às discussões acerca da dimensão midiática que atravessa este importante período da história brasileira.

Como sugestão, seguem algumas temáticas de interesse:

Configurações das mídias no Brasil sob os regimes Vargas (1930-1954)

Nesse sentido, entre outras temáticas, demanda-se compreender:

  • a ação do Estado e da iniciativa privada no desenvolvimento dos meios de comunicação no Brasil;
  • a formação e configuração dos mercados e circuitos midiáticos brasileiros;
  • a organização espacial dos meios de comunicação social, incluindo o agrupamento da produção midiática em determinadas regiões e as suas implicações econômicas e culturais;
  • as relações das mídias e seus donos com os mais diversos atores sociais: políticos, intelectuais, artistas, e outros trabalhadores.
  • as trajetórias de personalidades que, relacionadas à comunicação, impactaram a história da mídia brasileira;
  • as vivências da rotina midiática: raça, gênero e classe social.

Papéis institucionais dos meios de comunicação

Sobre este tema, indica-se as seguintes questões a entender:

  • os fundamentos da autoridade midiática.
  • os discursos midiáticos de autolegitimação.
  • os modos de organização do discurso midiático.
  • as formas de inserção das mídias no debate público.
  • as estratégias discursivas na ditadura e na democracia.
  • os principais conceitos mobilizados pelo discurso midiático.

Formas de retratar e comentar o Brasil de 1930 a 1954

Nessa perspectiva, recomenda-se compreender melhor:

  • a atuação das mídias nos processos eleitorais;
  • a ação midiática na mobilização das atitudes políticas, do comportamento eleitoral e da participação política;
  • as disputas – ou parcerias – entre governo e órgãos de comunicação na orientação da opinião pública sobre o regime (ditatorial ou democrático);
  • as políticas públicas sob enfoques midiáticos.
  • as ligações entre a propaganda política, a indústria cultural e os processos de industrialização e modernização do Brasil.
  • as representações midiáticas e experiências nos espaços urbanos: planejamento urbano; fenômenos de gentrificação; distribuição socioespacial das cidades, etc.;
  • os processos migratórios e a influência midiática: formação e negociação de identidades migrantes; constituição de imaginários sociais;
  • tecnologias e narrativas de mídia sobre controle territorial, expansão das fronteiras e geopolítica.

Normas de submissão

Línguas: português, espanhol, inglês.

Deadline: 26 de maio de 2024

Tamanho dos artigos: até 12 mil palavras ou 30 páginas.

Formatação: Fonte Times New Roman 12, espaço entre parágrafos 1,5.

Mais informações: https://www.revistacontinentes.com.br/index.php/continentes/index

E-mail dos organizadores: Carla Fernanda da Silva [lacarlasilva@gmail.com], Pâmela Chiorotti Becker Souza [pamela.souza@edu.pucrs.br], Thiago Costa Juliani Regina [thiago.regina@acad.pucrs.br] e Revista Continentes [geofilos@msn.com]. Favor enviar para os quatro simultaneamente.

Bibliografia

ABREU, Alzira; LATTMAN-WELTMAN, Fernando. Fechando o cerco: a imprensa e a crise de agosto de 1954. In: GOMES, Angela Castro. (Org.). Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994, p. 23-60.

BARBOSA, Marialva. História Cultural da Imprensa: Brasil, 1900 – 2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

BILHÃO, Isabel. “Trabalhadores do Brasil!”: as comemorações do Primeiro de Maio em tempo de Estado Novo varguista. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 31, n. 62, p. 71-92, 2011.

CAPELATO, Maria Helena. Propaganda política e construção da identidade nacional coletiva. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.16, n. 31-32, p. 328-352, 1996.

CAPELATO, Maria Helena Rolim. O Estado Novo: o que trouxe de novo? In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. v. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias. São Paulo: Contexto, 2019.

DELGADO, Lucilia de Almeida N. (Org.); FERREIRA, Jorge (Org.). O Brasil Republicano: O tempo da experiência democrática – Da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. v. 3, 432 p.

GARCIA, Nelson Jahr. Estado Novo: ideologia e propaganda política — a legitimação do Estado autoritário perante as classes subalternas. São Paulo: Loyola [Fonte Digital], 1999.

GOMES, Ângela de Castro. Propaganda política, construção do tempo e mito Vargas: Calendário de 1940. ANPUH – XXII Simpósio Nacional de História. João Pessoa, 2003.

GOMES, Angela de Castro (Org.). Olhando para dentro: 1930-1964. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

GOULART, Silvana. Sob a verdade oficial: ideologia, propaganda e censura no Estado Novo. São Paulo: Marco Zero, 1990.

HIPPOLITO, Lúcia. Vargas e a gênese do sistema partidário brasileiro. In: Anos 90. Porto Alegre, v. 11, n. 19/20, 2004. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/anos90/article/view/6350.

JÁCOME, Phellipy. A constituição moderna do jornalismo no Brasil. Curitiba: Appris, 2020, 303 p.

LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda x Wainer: O Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: Editora SENAC, 1998.

LUCA, Tania R. de. A grande imprensa na primeira metade do século XX. In.: MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tania R. de. História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2011, p. 149.

MARTINS, Luis Carlos Passos. A grande imprensa “liberal” carioca e a política econômica do Segundo Governo Vargas (1951-1954): conflito entre projetos de desenvolvimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2016.

MOURELLE, T. C. (Org.); LAGO, M. C. (Org.); FRAGA, A. B. (Org.). Dicionário do governo Vargas: da Revolução de 1930 ao suicídio. 1. ed. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2023. v. 1. 299 p.

ORTIZ, Renato. A Moderna Tradição Brasileira. Cultura brasileira e indústria cultural. São Paulo, Brasiliense, 1988. 222 p.

PAULO, Heloísa. O DIP e a Juventude – Ideologia e Propaganda Estatal (1939/1945). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 7, n. 14, mar./ago. 1987, p. 99-113.

RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Imprensa e história no Rio de Janeiro dos anos 1950. Rio de Janeiro: E-Papers, 2007.

SÁ NETO, Arthur Autran Franco de. Os produtores cinematográficos e o Estado na Argentina e no Brasil (1930-1945). Galáxia, São Paulo, n. 30, mai./ago. 2018, p. 84-97. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/gal/n38/1519-311X-gal-38-0084.pdf. Acesso em: 17 nov. 2020.

SCHVARZMAN, Sheila. Humberto Mauro e as imagens do Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2004.

SHAW, Lisa. Vargas on Film: From the Newsreel to the chanchada. In: HENTSCHKE, Jens R. Vargas and Brazil: New Perspectives. New York: Palgrave Macmillan, 2006.

SIMIS, Anita. Estado e Cinema no Brasil. São Paulo: Annablume, 1996.

SIMIS, Anita. Cinema e cineastas em tempo de Getúlio Vargas. Revista de Sociologia e Política, n. 9, p. 75-80, 1997.

SOUZA, José Inácio de Melo. Eleições e Cinema Brasileiro: do Fósforo Eleitoral aos Santinhos Eletrônicos, In: Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 155-165, jun.- ago. 1994.

SOUZA, José Inácio de Melo. Trabalhando com cinejornais: relato de uma experiência. História: Questões & Debates. Curitiba, Editora UFPR, n. 38, 2003a, p. 43-62.

SOUZA, José Inácio de Melo. O Estado contra os meios de comunicação (1889-1945). São Paulo: Annablume/Fapesp, 2003b.

TOMAIM, Cássio dos Santos. As imagens das multidões nos Cinejornais de Primeiro de Maio do Estado Novo. História Social. Campinas, v. 9, n. 11, p. 41-74, 2005.

WAINER, Samuel. Minha razão de viver. Rio de Janeiro: Editora Record, 1987.